30 de mai. de 2010

Documentário "Os Estados Unidos contra John Lennon"


Por Daniel Collyer

O documentário “The U.S. vs. John Lennon” foi lançado em 2006, mas só chegou ao Brasil em 2010. Os diretores David Leaf e John Scheinfeld quiseram mostrar como e por que o líder dos Beatles se tornou no fim da década de 60, o inimigo número um do governo do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. Dão tom ao filme depoimentos de ex-membros do governo dos Estados Unidos, advogados e pessoas próximas ao casal Yoko Ono e John Lennon. Também falam intelectuais como Gore Vidal, Noam Chomsky e alguns líderes ativistas dos anos 70, como Angela Davis, dos Panteras Negras. Além de um dos dois jornalistas que desvendaram o caso Watergate, Carl Bernstein.

John Lennon sempre deu opiniões polêmicas e radicais. Partindo desse especto da personalidade dele, o filme mostra o lado ativista que havia no cantor, que foi ainda mais aguçado ao conhecer a artista plástica Yoko Ono, sua companheira inseparável desde o fim dos Beatles. Yoko agregou a John o teor performático e juntos tentavam explicar seus conceitos como o “bagismo” e o “comunicação total” para os jornalistas que incessantemente os seguiam. O casal adotou um caráter exibicionista para transmitir paz e a relação direta com as novas canções que eram cantadas por multidões ao redor do mundo. Além de canções que denunciavam para os inimigos e conservadores seu comportamento subversivo. É sempre ao lado de Yoko que Lennon está toda vez que fala para multidões de jovens em eventos contra a guerra. Também é acompanhado dela que cede entrevistas criticando abertamente poderosos da época. Através de imagens de arquivo, gravações de canais de TV e fotos da família, a produção remonta momentos importantíssimos que influenciaram a cultura mundial de forma irreversível.

O filme traz um enfoque maior na época na Guerra do Vietnã ocorrida entre os anos de 1959 e 1975 e a qual John Lennon, Yoko Ono e grande parte dos americanos e do resto do mundo eram contra. Por conta disso, fazia discursos inflamados e protestos como o que ocorreu em Amsterdã, quando ele e a esposa ficaram deitados na cama de um hotel durante a lua-de-mel por uma semana em meio a jornalistas, fotógrafos e mensagens de paz como o lema “faça amor, não faça guerra”. Dispostos a convencer a opinião pública de que os Estados Unidos cometiam um grave erro ao se manter na guerra, Lennon e Yoko chamaram a atenção dos jovens de várias formas. “Ele sabia que a mídia noticiaria qualquer coisa ligada a ele”, comenta um dos entrevistados no filme. Fez com que canções como “Give Peace a Chance” e “Imagine” se tornassem verdadeiros hinos para os opositores à presença militar americana no Vietnã.

O filme conta ainda como um artista chegou ao ponto de perturbar o governo do presidente Richard Nixon, ter seus direitos infringidos por grampos telefônicos ilegais, procurado pelo FBI e entrou em uma briga de quase cinco anos com as constantes investidas do Serviço de Imigração americano para deportá-lo até que conseguisse seu Green Card e se tornasse cidadão americano.

Partindo da tese que segue todo o longa-metragem, as ligações de Lennon com revolucionários anti-Nixon e a atenção constante que obtinha da mídia teriam sido fatores determinantes para ele ser vigiado e ter suas conversas grampeadas. Em várias entrevistas durante os anos 70, John chegou até mesmo a declarar publicamente como essa circunstância o tinha tornado um pouco paranóico.

A associação do casal com radicais de movimentos paralelos como Panteras Negras, é contada pelos roteiristas mostrando um caráter ingênuo de John e o indicam como brinquedo político dos militantes dos quais ele financiava a ideologia e outras polêmicas envolvendo o uso de drogas ou elemento negativo para a figura de John Lennon não são tratados. Há com certeza um peso do “sentimentalismo” e “complacência” de David Leaf e John Scheinfeld.

Para aquele que não é fã ou não conhece os Beatles ou John Lennon, vale assistir o filme pela questão histórica da Guerra do Vietnã e também como a genialidade de um artista pode ser tão forte quanto o poderio de uma grande potência como os Estados Unidos. Além disso, o filme é um grande modelo de filme do gênero documentário. E você que é um beatlemaníaco, ainda não assistiu o filme? Tá esperando o que?

Confira o trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário