1 de mai. de 2010

Marcelo Fróes comenta sobre o projeto em homenagem aos Beatles.

por Felipe Sieczko Nascimento

O álbum “Beatles 70", já citado anteriormente no blog, tem sua previsão de lançamento para o dia 10 de maio, e com ele termina a trilogia iniciada por Marcelo Fróes.
O primeiro projeto teve seu início em 2008 com o “Álbum branco”, que regravou as músicas dos Beatles relativas ao ano de 1968. Com o sucesso do primeiro disco, Marcelo Fróes topou fazer o segundo, dessa vez em alusão às músicas de 1969, com o álbum “Beatles 69". É claro que, ao terminar o segundo disco, a homenagem não podia terminar sem a comemoração dos 40 anos do “Let it be”. E com a participação de Sá & Guarabyra, além de outros grandes nomes da música brasileira, o terceiro álbum está pronto e prestes a ser lançado.

Entrevistei Marcelo Fróes, que falou sobre os principais aspectos da realização do projeto.

Felipe - Como surgiu a ideia de gravar o primeiro álbum?
Marcelo Fróes - Em 2007 eu estava conversando com um amigo, Guto Ribeiro, sobre projetos tributo que estavam sendo feitos pela Internet - como a regravação do Sgt Pepper e os tributos a Ronnie Von e Erasmo Carlos. Pensei em fazer algum, ele sugeriu que fizesse o Album Branco pra 2008. A princípio achei loucura, pois eram 30 faixas e seria complicado encontrar intérpretes para todo aquele material. Dois dias depois eu resolvi encarar o desafio e abri uma comunidade no Orkut para que os intérpretes reservassem suas faixas. Em 48 horas o disco estava todo tomado, e amigos mais conhecidos começaram a demonstrar interesse. Resolvi fazer uma segunda versão do disco e comecei a ligar para artistas famosos como Zé Ramalho, Pato Fu, Flavio Venturini, Cachorro Grande, Rodrigo Santos & George Israel, Jerry Adriani, Márcio Greyck, Sylvinha Araújo etc. Por isso tivemos o Album Branco e o Album Branco Indie Version. Mas interessados não paravam de aparecer, por isso acabei fazendo - já no início de 2008, quando meu selo Discobertas já seria responsável pelo lançamento em CD - o As Outras Cores do Album Branco, que é só com as outras canções do repertório dos Beatles de 1968. Por isso ele tem mais artistas famosos que os demais, por que esse foi realmente feito através de contatos meus por telefone e email com Lobão, Paulo Ricardo, Zelia Duncan, Raimundo Fagner, Moska, Branco Mello, Isabella Taviani, A Bolha, O Salto, Biquini Cavadão, Ramirez etc. Zé Ramalho chegou a gravar uma música inédita de George Harrison chamada "Dehra Dun", composta na Índia mas jamais lançada em gravação finalizada por ninguém (nem pelos Beatles, nem por George).

Felipe - Os seguintes já estavam programados para serem lançados anualmente?
Marcelo Fróes - Não, realmente não. Mas depois que fechamos a trilogia do Álbum Branco e ela saiu, bateu um vazio enorme. O projeto havia rolado por um ano e foram contados diários com literalmente centenas de profissionais de música brasileira - artistas, bandas, produtores, músicos, empresários, técnicos, capistas, fotógrafos etc. Ao mesmo tempo, alguns que não haviam participado - e até alguns que haviam participado - começaram a me falar, já no final de 2008, que em 2009 teríamos os 40 anos do Abbey Road. Só que, pra mim, depois de fazer um projeto de quase 90 faixas, pilotar algum de somente 17 faixas soava como pouca coisa. Resolvi então esboçar o repertório de tudo que os Beatles haviam composto, gravado e/ou lançado em 1969, e logo cheguei as 63 faixas da trilogia "Beatles 69" (21 faixas por CD). E comecei a falar com artistas, marcar estúdio etc. Por incrível que pareça, foi um projeto viabilizado em apenas seis ou sete meses. Ele engrenou em janeiro de 2009 e estava pronto em julho. 40 anos depois, regravamos todo o projeto "Get Back", as sobras e também o "Abbey Road" - e com grandes intérpretes, como Capital Inicial, Jota Quest, Frejat, Milton Nascimento, Mallu Magalhães, Ivan Lins, Joyce, João Donato & Paula Morelenbaum, Zé Ramalho, Flavio Venturini, Wanderléa etc. Esta trilogia envolveu também seis canções inéditas daquela fase, jamais lançadas em disco por ninguém - como Suzy Parker, How Do You Do, Suicide etc.
Felipe - Qual a dificuldade de regravar os sucessos dos Beatles?
Marcelo Fróes - Talvez seja desligar-se do original, para fazer algo realmente criativo - mesmo respeitando a melodia original. A grande lei é essa, respeitar a melodia, mas pode-se criar arranjos livremente. E, claro, cantar em inglês. Por isso, desde o começo, a idéia foi a de não termos bandas ou artistas cover no projeto - porque não teria graça fazermos versões idênticas nos CDs.

Felipe - Como os músicos encararam esse desafio?
Marcelo Fróes - Todo mundo fez amarradão, basta dizer que foram projetos sem orçamento algum. Hoje em dia qualquer artista estabelecido tem seu estúdio ou alguma forma de gravar, de forma que a maioria das gravações foram auto-produzidas pelos artistas e com o apoio de seus músicos, técnicos etc. É a grande prova de que a música sobrevive à crise e também de que o brasileiro realmente ama a música dos Beatles.

Felipe - E você, como reagiu ao término do trabalho?
Marcelo Fróes - Bom, ao lançar os Beatles 69 em setembro começou aquele papo: ano que vem o Let It Be faz 40 anos. Eu teria menos de seis meses para produzir, de forma que tivéssemos a master pronta em março no máximo. Um dia o Guarabyra ligou-me perguntando se a idéia de gravar a canção "Let It Be" ainda estava de pé. É que, no final de 2008, ele foi um dos primeiros a reservar música para o projeto Beatles 69. O trio Sá, Rodrix e Guarabyra gravaria no início de 2009, mas Zé Rodrix faleceu de repente quando estavam procurando estúdio para gravar em São Paulo. Passado o luto, a gravação de "Let It Be" seria a primeira da dupla Sá & Guarabyra nesta nova fase, então eu tomei fôlego para realmente fazer o projeto "Beatles 70". Só que, da mesma forma que o "Let It Be" serviu-se de gravações de arquivo e algumas coisas já gravadas e/ou remixadas, decidi ter no "Beatles 70" gravações preciosas como o "Get Back" de Cássia Eller e algumas faixas bacanas de outros projetos que eu fizera ao longo da década. Assim sendo, o vol. 1 é o "Let It Be" com alguns bônus e o vol. 2 traz faixas do projeto solo de John, Paul, George e Ringo daquele ano de 1970.
Felipe - Tem algum novo projeto previsto?
Marcelo Fróes - Os Beatles sempre serão influência recorrente para projetos meus. Rodrigo Santos, do Barão Vermelho, acaba de aprontar seu terceiro CD solo para meu selo Discobertas e incluímos "Did We Meet Somewhere Before", uma inédita de Paul McCartney de 1978. Incluímos também a raríssima "Life Begins at 40", de John Lennon, feita em 1980, porém, nunca gravada. E, por fim, ele fez um dueto de "Just For Today" com Zé Ramalho. Farei mais coisas com a música dos Beatles ao longo dos anos, sem dúvida. Em junho, para os 43 anos do "Sgt Pepper", vamos lançar os Beatles 67 - com o lançamento em CD do projeto virtual de 2007, e mais algumas coisinhas...

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