17 de jun. de 2010

Paul McCartney: cantor e pintor








POR FERNANDO CONDE E PEDRO BARBOZA



Até os quarenta anos, Paul McCartney sentia-se bastante inibido para exibir sua pintura. Não se achava suficientemente talentoso e ainda por cima poderia parecer que estava competindo com John Lennon, uma vez que seu ex-parceiro nos Beatles havia estudado belas artes por algum tempo, em Liverpool.
Segundo McCartney este era seu maior bloqueio. De certa forma, para ele era como se apenas as pessoas que tivessem freqüentado a faculdade tivessem permissão de pintar. Contudo, pelo seu retrospecto na escola, Paul não teria tido nenhuma dificuldade em entrar para uma faculdade de Belas Artes. Tirava boas notas em educação artística e na adolescência chegou a ganhar um prêmio por um desenho que fez. O tal prêmio, por sinal, era um livro de artes e Paul passava horas e horas estudando reproduções de Salvador Dali e Pablo Picasso.
Quando os Beatles começaram, a formação original incluía outro jovem bastante talentoso chamado Stuart Sutcliffe, amigo de John na escola de Belas Artes. Ao que parece, Sutcliffe era um pintor de mão cheia, mas sua morte prematura interrompeu o que poderia ser uma carreira promissora. Apesar do pouco tempo que conviveram é notório que Sutcliffe exerceu uma grande influência sobre seus companheiros de banda, mostrando tanto para John como para Paul um outro lado artístico que eles deveriam explorar. Felizmente para os fãs de rock ‘n roll, meses após a morte de Sutcliffe os Beatles estouraram e a pintura teve que ser deixada de lado. A sementinha, entretanto, já estava plantada.
Ainda nos anos 60, quando os Beatles já haviam parado de fazer shows e tocavam apenas no estúdio Abbey Road, Paul começou a freqüentar galerias de arte, entre elas a Robert Fraser, que também era crítico de arte e tinha olho clínico para descobrir novos talentos. Fraser estimulou Paul não só a pintar como também a travar conhecimento com outros artistas do ramo. Sendo assim, embora fosse John Lennon quem tivesse um histórico acadêmico, foi o parceiro quem mais se engajou no lado visual dos Beatles. Tanto a capa de Sgt. Pepper’s quanto a de Abbey Road foram baseadas em rascunhos feitos por McCartney e foi dele também a idéia da capa branca minimalista do disco que ficou conhecido como Álbum Branco. Foi mais ou menos nessa época, entre 1967 e 1969, que Robert Fraser apresentou Andy Warhol a Paul. Embora o americano estivesse envolvido mais com o cinema experimental do que com a pintura naquele tempo, Paul conhecia bem o trabalho de Warhol e possivelmente foi este contato que influenciou McCartney a pintar seus primeiros quadros como se fossem séries.
Contudo, somente no fim dos anos 70 que Paul conheceu o homem que não somente viria a ser seu grande mentor em termos de pintura, como um de seus melhores amigos por toda a vida: Willem de Kooning. Observando De Kooning trabalhar em seu estúdio, McCartney finalmente se livrou de seus temores e amarras e passou a desenvolver um estilo próprio. Um estilo muito próximo do abstrato e intensamente colorido, que só se tornou público em abril de 1999, numa exposição individual em Siegen, na Alemanha, quando Paul já se aproximava dos sessenta anos.

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